Mesa de Afetos

Se há destinos e viagens obrigatórios na vida, para Gabriela Pereira, visitar a casa de Eduardo Perdigão é um deles. Ir a casa do pai, no Carvalhal, em Melides, é condensar a sua pessoa ao essencial. “Acho que pouca gente saberá o meu nome aqui. E eu gosto de perder essa identidade porque me liberta de um monte de bagagem… E regressam só as memórias. É como se voltasses à infância, é como se voltasses à tua essência, e ser livre.”

Gabriela transforma-se numa menina de olhos brilhantes ao contar as suas vivências nesta casa, um território de partilha e de alegria onde aprendeu a ser a mulher que é hoje. Por outro lado, há um reflexo desse brilho em Eduardo, o rapazito que trabalhou na monda do arroz mas cuja determinação levou a conquistar uma vista para os atuais arrozais. Testemunhos de vida partilhados com muito orgulho e carinho: “O meu pai trabalhou neste arrozal, tal como algumas das suas irmãs, e a questão de semear para colher sempre foi uma máxima muito grande. Aquilo que fazemos com carinho vai nascer mais forte. Portanto foram esses valores que me foram passados.”

Foi também com o pai que Gabriela despertou a curiosidade pela forma como as coisas crescem e se cozinham. Foi por osmose que ganhou a mão para a cozinha. E aqui entra também a Tia Dulce, irmã de Eduardo. Completam uma espécie de triângulo amoroso em que cada um dá a sua achega nesta mesa de afetos. “A minha relação com a cozinha acontece desde sempre, tendo em conta que o meu pai e a minha tia Dulce sempre fizeram questão de nos ter sempre à mesa. Antes dos meus pais terem esta casa aqui, encontrávamo-nos muito em casa da minha avó, em Melides, e havia uma mesa corrida, onde não só nos encontrávamos afetivamente, como também nos encontrávamos nos sabores.”

E é também no Carvalhal que cozinhar se torna uma responsabilidade acrescida – para Gabriela, fazer a Massada de Cabeça de Garoupa para o pai e para a tia é tentar superar-se para chegar ao nível da perfeição, já que esta receita é o ex-libris de Eduardo e Dulce. Confeccionar este prato é a contar a história destas duas pessoas e retribuir-lhes o amor que lhe foi dado.

 

Fotografias de Manuel Gomes da Costa

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