Sidalina é uma mulher da terra. Talvez por ter visto os seus antepassados a trabalhar no campo, a semente germinou depois de uma carreira forçada como professora. As peripécias da vida fizeram-na voltar às origens, pegar na enxada e começar a cultivar a terra do seu pai, agora sua, em Vila Nova, Cantanhede, bem perto de Coimbra.
Embora esteja sempre rodeada de amigos, é na terra e de volta da bicharada que se sente realizada. “Sinto uma paz, sinto que estou de bem com a natureza”. O que cultiva não é necessariamente para comer mas dá-lhe especial prazer saber que a sopa que serve tem o azeite da casa, que tempera a batata, o feijão e a nabiça semeados e apanhados pelas suas mãos fortes e orgulhosas. Tem brio naquilo que semeia.
De volta dos tachos ou da terra, a alegria é a mesma e garante-nos que vai cozinhar e cavar, “enquanto tiver ossos para isso”.
Em Vila Nova, e nas aldeias em redor, comiam-se as papas, receita preparada com os legumes que a terra dava, e a broa, ambas base da alimentação. Nos dias em que se cozia a broa, chegando a época da sardinha fresca, fazia-se uma iguaria especial: a Torta de Sardinha. No resto da massa da broa que ficava no alguidar, envolviam-se as sardinhas e, já dentro do forno a lenha, com a pá achatava-se a massa da broa, ficando “torta”.
Estes sabores tradicionais, regados a vinho branco caseiro, são desculpa para juntar família e amigos. “Eu gosto de os ter todos à mesa e falar da nossa juventude. Que nós, no nosso tempo, aqui há 50 anos, éramos os revolucionários da terra… E continuamos de certo modo a ser revolucionários à nossa maneira”.
Fotografias de Manuel Gomes da Costa