A Luz da Teodora

Teodora Gonçalves nasceu na antiga Aldeia da Luz. A aldeia foi inundada pelo Alqueva mas as memórias e vivências ficaram bem intactas na saudade desta alentejana. “Eu percorro as ruas da aldeia com a minha cabeça. Eu vou por esta rua, depois por aquela, depois por aquela… Porque eu lembro-me de cada pormenor, a cada porta, a cada rua… Eu quase que me lembro das cores dos rodapés das pessoas…” A fala sai-lhe rápida e atropelada, e a doçura dos olhos ilumina a sua maneira de ser. A nostálgia foge-lhe da boca mas Teodora depressa tenta calá-la com as esporádicas coisas boas da aldeia do séc. XXI. Agora as casa estão equipadas com ar condicionado, mas é o mesmo ar condicionado que acaba com as conversas de rua que aconteciam quando o calor amainava. Percebemos, pois, que viver na nova Aldeia da Luz tem gosto agridoce.

Não espanta, pois, que cada vez que faz o Arroz Tostado se recorde dos casamentos tradicionais da antiga aldeia. O arroz comia-se nos casamentos e era o prato que se servia no segundo dia de festa. No primeiro fazia-se a sopa de couve (tradicional cozido) e ensopado de borrego. No segundo dia, com o resto das carnes, fazia-se o Arroz Tostado usando os restos das carnes da véspera, que depois ia ao forno da padaria da aldeia. Era esse o prato de que a Teodora mais gostava porque não se fazia em casa. Os pais trabalhavam no campo e sendo Teodora a mais velha dos irmãos, aprendeu a cozinhar por ver e ter de fazer. O arroz adaptou-o à atualidade já que os casamentos são diferentes de outrora e já pouco acontecem na nova aldeia.

Há 12 anos que a aldeia foi construída na nova zona. Mudou-se a terra, mudou-se a Luz e mudaram-se as vontades: “…porque esta não é a minha terra. Esta é a terra das minhas netas. E as minhas netas se não viverem aqui, elas vão poder voltar sempre à terra, e eu nunca mais vou voltar à minha terra.”

 

Fotografias de Manuel Gomes da Costa

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