E se comunicássemos por desenhos? Júlio Dolbeth não teria qualquer problema em fazer-se entender já que a necessidade de desenhar lhe é inata. Aliás, para este ilustrador e professor do Porto, os desenhos surgem, muitas vezes, mais facilmente do que as palavras. A sua casa é toda uma vida ilustrada de personagens reais e fictícios que vai colecionando e partilhando com as pessoas com quem se cruza.
“A minha ideia, às vezes, é passar mensagens através de um desenho ou histórias da minha vida que eu vou contando, e nem sempre desvendo tudo. Mas no fundo são pequenas narrativas. Tem a ver com coisas da minha vida, questões biográficas.”
É como se a vida lhe fosse dando pistas e Júlio as fosse seguindo e interpretando em forma de ilustração, muitas vezes sob o mote “words don’t come easy” . E por isso surge a Dama Aflita, a galeria do Porto que co-fundou, e um mundo onde a ilustração nos leva para outros imaginários.
E é também no meio dos desenhos que recebe os seus amigos a quem serve a Muamba da Avó Luísa. Quando a avó convidava alguém para comer Muamba era sinal de amizade e apreço. Júlio, filho de mãe angolana e de pai português, mantém a tradição da avó na sua mesa do Porto.
“Muamba é um prato que na minha estrutura familiar sempre foi muito importante. Quando eu me apercebia que a minha avó queria convidar alguém para fazer uma muamba, queria dizer que ela gostava mesmo dessa pessoa e que era uma coisa que lhe dava mesmo muito prazer. Lembro-me de que os almoços em casa dela começavam sempre muito tarde porque ela demorava muito tempo a fazer as coisas, com muita dedicação e com muito carinho, e depois conversávamos e tudo aquilo ia acontecendo ali na cozinha.”
Fotografias de Manuel Gomes da Costa