Alheira, um cavalo de batalha? Sim, é o que sente o orgulhoso transmontano Rodrigo Meneses quando vê este rico enchido nortenho a ser tão mal tratado pelos “mouros” – para que não seja sacrificada numa fritadeira com óleo (e outros sacrilégios que tais), Rodrigo tomou para si esta batalha – dar dignidade à alheira, ensinando a cozinhá-la da forma correcta.
A questão surgiu quando lhe perguntámos pelo melhor produto português que já provara. Rodrigo não hesitou em mencionar os nossos enchidos e em especial, a alheira.
“Temos enchidos muito bons, de norte a sul do país, e produtos muito diferentes, e não especifico o tipo, porque, mais uma vez, íamos entrar na conversa do gostar mais do pai ou da mãe. Obviamente que posso dizer que a melhor zona é a de Trás-os-Montes, porque é aquela que eu conheço melhor. Será sempre essa a minha referência.
E neste campo, falo nas alheiras, da tradicional alheira com ovo. Isso é um cavalo de batalha meu. “Os «mouros» não sabem cozinhá-la.”
Na rua do sítio em que eu trabalhava na altura, havia um snack-bar que servia alheira com ovo. Quando a provei, fiquei muito desconsolado – a alheira tinha sido frita e servida com batata frita e ovo estrelado. Os ingredientes estavam certos, mas tinham sido cozinhados da maneira errada. Foi uma facada no meu meu coração. Passar a genuína maneira de cozinhar uma alheira é uma missão minha.
Embora a história que se conta de a alheira ter sido criada por judeus poder ser um mito, é deixá-la ficar. Eu acho que é uma história bonita. Se alguém que para fugir à morte criou um enchido, temos de celebrar esse enchido.”
Somos solidários com a causa – não sacrifique mais a pobre allheira e aprenda como cozinhá-la!
Fotografia ©Teresa Novak