“Eu comecei a ser moleira já na barriga da minha mãe. A minha mãe era moleira, o meu pai também, e fomos”. É com esta simplicidade, e sempre com um sorriso nos olhos, que Conceição fala da sua vida. Foi em Ul que nasceu, aprendeu o ofício da moagem e quando as fábricas tomaram conta do negócio, aos 50 anos, reinventou a sua vida. No salão da sua casa decidiu fazer um forno e montar uma padaria, mesmo contra a vontade do marido. “E cá está, tenho uma padaria linda, tenho uns clientes lindos que não me trocam. De maneira que isto vai ser até eu poder.”
Conceição teve de lutar contra o desgosto e conquistar o seu lugar de padeira mas é, hoje em dia, uma orgulhosa padeira de Ul. Atualmente, faz o pão e o marido encarrega-se da venda. “É uma iguaria. É um pão onde não há nenhum, em lado nenhum igual”. É sempre com esta convicção com que Conceição fala. E se lhe falta o ânimo, vai visitar os seus moinhos, junto ao rio Ul. “Vou matar saudades, vou ouvir o rio a cantar, que ele fala para mim, vou ver os pássaros que lá andam, que eu conheço-os todos. Vou ver aquela maravilha.” Os olhos emocionam-se mas segue-se logo um sorriso generoso. Conceição é uma mulher de bem com a vida . E por isso, também não é o trabalho árduo nem a solidão da noite que lhe tiram o prazer do convívio.
“Trabalho de noite, e às vezes podia dormir mais um bocado mas eu também tenho que ir falar, também tenho que ir conversar com as minhas amigas. Faz-me falta, conversar, ir ver umas coisas, participar noutras.” E aqui entra o seu gosto por cozinhar para a família, como a receita da Sopa Seca. Na época do Carnaval, a mãe da Conceição fazia o cozido à portuguesa e aí aproveitava a água gorda, de cozer as carnes, e o pão das vésperas, para fazer a Sopa Seca. “A Sopa Seca é uma coisa de pobres, é o resto do pão. Tem é de ser pão d’Ul!” Conceição continua esta tradição na sua mesa, onde nunca pode faltar o pão e o vinho. “O resto é acessório”.
Fotografias Manuel Gomes da Costa