O Doce Destino

Rosária tem mãos de fada! A doçura da maternidade não lhe bastou e trocou as tesouras do cabeleireiro pelo açúcar da doçaria conventual. Se o engenho está nas mãos, o segredo está na paixão e na dedicação com que coloca cada gema de ovo e cada grama de açúcar para obter um doce conventual. É uma vida rodeada de açúcar mas não sem sacrifício e muito trabalho – são receitas muito meticulosas, em que é preciso respeitar os tempos de preparação, a qualidade dos ingredientes e quantidades certas. Ser doceira conventual não é, portanto, para todos!

Rosária Maria sublinha a delicadeza das receitas e o requinte que tem de ser ter para as comer – cada pessoa come o que merece, diz: “O doce conventual tem que ser feito com muito carinho mas também tem que ser comido com muito carinho. Não é toda a gente que o aprecia porque acham muito doce, por isto e por aquilo, mas se tiver um paladar requintado as pessoas acabam por gostar. Não se come mais, come-se menos, e fica-se a gostar.”

A história do Manjar Branco vem de muito de trás, do Convento de Santa Clara, fundado no século XIV em Portalegre e extinto em 1834. As freiras franciscanas do convento dedicavam parte do seu tempo à doçaria conventual. Daquelas mãos nasceram receitas que tornaram a cidade célebre pelos seus doces conventuais, como o Manjar Branco.

Rosária aprendeu o doce com as Senhoras Cardoso, as detentoras e protectoras das receitas do convento. Para que não se perdessem, algumas doceiras da cidade tiveram o privilégio e o merecimento de aprendê-las com aquelas irmãs. Rosária é hoje em dia uma fiel depositária deste doce tesouro. O Manjar Branco é o doce conventual mais apreciado na sua família: é um doce de mesa, que se partilha gomo a gomo, entre alegria e boa disposição.

“O doce é partilhado porque não é um doce de sobremesa, é um doce de mesa, de festa, ou de um dia de anos ou de Natal, ou de Páscoa. Qualquer festa que a família tenha em casa, o doce é colocado na mesa. Vai uma pessoa e tira um gominho, vai outra e tira outro gominho, e como é comido à mão tem uma partilha diferente do que estar a pôr numa taça e comer. Nem tem o mesmo sabor! E é muito mais agradável de ser assim comido, de gominho em gominho.”

 

Fotografias de Manuel Gomes da Costa

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