Foi nas margens serenas do Tejo Internacional, em Malpica do Tejo, que, aos 14 anos, João Panela começou a pescar. Ninguém diria que é o mesmo rio que banha a capital, pela paisagem verdejante que nos abraça. João começou por ajudar os mais velhos que lhe davam peixe como moeda de troca. Foi então que comprou as suas próprias redes e fez-se ao rio. Já não estranha o silêncio das madrugadas no barco, enquanto espera pelo peixe e pelo lagostim. Para onde lhe foge o pensamento da noite? “Penso que estou a fazer tanto sacrifício a dormir para aqui e amanhã, se calhar, as redes não têm lá nenhum peixe. A gente está sempre a pensar se o peixe agarra ou não agarra. Por vezes tenho encomendas e estou com aquela preocupação… Tento sempre cumprir a missão”.
Às 4 horas da manhã, pela fresca, levanta as redes do peixe para depois vendê-lo, e voltar para apanhar o lagostim. “E assim se passa o tempo no Tejo”.
Quem vê o rio atualmente, não consegue imaginar que há 40 anos era possível atravessá-lo por cima do cascalho, sem molhar os pés. “Para a pesca não é mau, mas da imagem gosto mais dele antigo, como era antigamente… Parece que a paisagem era outra, o rio, a maneira de ser… Havia mais areal e agora é só mato.”, confessa João Panela. E depois havia barbo, boga, carpa e achigã com fartura mas a introdução do lúcio-perca veio devorar algumas espécies.
João começou a fazer os seus petiscos, as Migas de Peixe (barbo), depois da pesca, entre amigos. “A gente aqui não tinha mais entretenimentos, não havia discotecas não havia nada, tínhamos que nos entreter assim. Um dia apanhava-se meia dúzia de peixes e fazia-se uma miga. E eram os petiscos que a gente tinha aqui na aldeia. Era um prato que estava sempre pronto, desde que houvesse peixe. Se não houvesse peixe… A miga sem peixe também não dá.”
E já agora fica a recomendação, a miga sem vinho também não! Miga sem vinho a acompanhar “não cai”, acrescenta João Panela.
Fotografias Manuel Gomes da Costa