“Vou a casa das tias”. Cresci a ouvir esta frase.
As tias da minha mãe, irmãs do meu avô, faziam parte de um grupo social que entretanto quase se extinguiu. Uma instituição do século passado de senhoras, irmãs, que viviam sozinhas e tinham optado – ou sido obrigadas, conforme os casos – por ficar solteiras, e experimentar os prazeres de viverem juntas uma vida inteira.
As minhas tias cumpriam bem algumas caricaturas queirosianas do século passado. Interessantes e viajadas, óptimas gestoras dos seus haveres, poliglotas e infinitamente mais requintadas do que o meu avô, favorecendo uns sobrinhos e sobrinhos-netos em detrimento de outros de forma angustiantemente evidente, eram para tudo convidadas e ouvidas, amealhavam relações sociais entre outras senhoras e primas que se juntavam à tarde para jogar canasta ou bridge. E entre o baralhar das cartas, trocavam certamente dicas de economia do lar e outros fait-divers.
Lá em casa recebia-se à antiga portuguesa, bem e sem grandes pretensões nem estrangeirismos. Ao almoço e ao jantar a mesa era simples e não havia cá espumas nem reduções e muito menos coisas “sobre camas” do que quer que seja. Não havia centros de mesa com flores, nem elementos decorativos e velas – bastava mesmo os castiçais com os “coutos”, os talheres de prata do dia-a-dia, uma toalha branca e uma empregada a servir, que o resto era dispensável.
Para quem gosta de comer à antiga portuguesa, sem intelectualizar e sem metáforas gastronómicas, nada como uns rissóis de camarão com salada russa. Os talheres de prata é que são opcionais.
Por Manuel Sottomayor
Fotografia © Teresa Novak
Rissóis de Camarão
Para quem gosta de comer à antiga portuguesa, sem intelectualizar e sem metáforas gastronómicas, nada como uns rissóis de camarão com salada russa.