Como açoriano que é, em Pedro corre-lhe nas veias o basalto negro e na lembrança tem vulcões e terramotos. Pedro tem sangue de S. Miguel e uma alma saudosa de casa e dos amigos.
Desde que está a estudar no continente, “cá fora”, fora das ilhas pela boca de um açoriano, já se habituou à pergunta de como é viver numa ilha. Das saudades é que não se habitua. E por isso surgiu a tuna açoriana, a Tuca, que nasceu do encontro de estudantes açorianos no continente, na Casa dos Açores. É aos fins-de-semana que partilham vivências e consolam um pouco a saudade com cantares tradicionais das ilhas.
O orgulho nas raízes e tradições transparece na forma como fala e, como não podia deixar de ser, surge a receita dos “Chicharros com Molho de Vilão”. Desde sempre que os açorianos sentem respeito pelo mar, pelas riquezas e bens que proporciona, inclusivamente o peixe.
Nos Açores, o chicharro é um dos reis dos peixes. É um peixe pequeno, como cerca de 40cm, de alto mar, que anda em cardume. É costume servir-se com molho de vilão ou com pimenta da terra, uma malagueta açoriana com baixo índice de picante.
Os chicharros são acompanhados de batata cozida e broa, e se não houver a pimenta da terra não estamos numa mesa açoriana. Para remate final, basta juntar uma canção, ou melhor, o hino não institucional da açorianidade, “Ilhas de Bruma”, e navegar até às ilhas.
Ilhas de Bruma
Ainda sinto os pés no terreiro,
Que os meus avós bailavam o pezinho
É que nas veias corre-me basalto negro
E na lembrança vulcões e terramotos.
Por isso é que sou das ilhas de bruma,
Onde as gaivotas vão beijar a terra
Se no falar trago a dolência das ondas
O olhar é a doçura das lagoas
É que trago a ternura das hortênsias
E no coração a ardência das caldeiras.
Por isso é que sou das ilhas de bruma,
Onde as gaivotas vão beijar a terra
Trago o roxo a saudade esta amargura
E só o vento me ecoa na lonjura
Mas trago o mar imenso no meu peito
E tanto verde a indicar-me a esperança.
Por isso é que eu sou das ilhas de bruma,
Onde as gaivotas vão beijar a terra
É que nas veias corre-me basalto negro
No coração a ardência das caldeiras.
O mar imenso me enche a alma,
E tenho verde, tanto verde a indicar-me a esperança.
Por isso é que sou das ilhas de bruma
Onde as gaivotas vão beijar a terra
Fotografias de Manuel Gomes da Costa