Quando a Caça é Uma Questão de Fé

António Fialho, para além de grande cozinheiro é um caçador aficionado. Amante da natureza, invoca a caça como uma lição de vida e sublinha que o verdadeiro caçador é aquele que respeita a vida selvagem. “A doença da caça começou muito cedo. É uma coisa que passa de gerações em gerações. Normalmente aos filhos dos caçadores, os pais tentam incutir o gosto pela caça. A mim não foi preciso porque desde miúdo, eu gostava muito dos pássaros, gostava muito dos coelhos, das lebres, desta coisa toda.”

Ao ouvir António falar da caça consegue entender-se este amor, aos olhos de alguns incompreensível, pela natureza e pelo acto da caça. Mais do que atirar, caçar é conhecer o animal, os seus hábitos e as leis da natureza. Quando se caça sente-se respeito pelo animal mas sente-se também a paixão e adrenalina, o cansaço, frio e calor. Caçar será esperar pacientemente pelo momento certo: pela estação certa, pela época e ciclos próprios, por um dia sem vento ou pela lua cheia.

“Os bons caçadores são, essencialmente, pessoas que gostam do campo, que gostam da vida do campo, que gostam dos animais, que preservam a vida selvagem, que respeitam os animais e que ao mesmo tempo gostam de caçar. Contentam-se com pouco desde que esse pouco tenha alguma qualidade e que o acto venatório lhes diga alguma coisa. É uma coisa muito bonita.”

É no Monte da Russiana, uma propriedade no concelho de Barrancos, em Beja, que António, para além da caça ao javali, se dedica à criação de gado mertolengo malhado, uma raça de vaca criada pelo pai e pelo tio. António tem nas suas mãos um património ecológico e agrícola que gere e de que fala com muita emoção e respeito.

A mão para a cozinha vem dos seus tempos de estudante quando cozinhava para os amigos. Juntando a paixão pela caça, António começou a fazer petiscos para os grupos de caçadores que acolhe em sua casa, altura em que dá largas ao seu gosto pela gastronomia. A receita de javali estufado com castanhas é o prato que melhor representa estes dois lados da sua vida. Na sua mesa de caçador não falha “um prato de caça, depois vinho e depois bons companheiros e boa companhia.”

 

Fotografias de Manuel Gomes da Costa

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