Quando nos sentámos à mesa com a Clara de Sousa, perguntámos-lhe qual a receita que melhor a identificava ou que era mais simbólica para a jornalista. Ei-la:
“É difícil fazer essa escolha, mas talvez o Arroz-Doce, que a minha mãe fazia a olho, que eu aprendi a fazer a olho, mas que tive de passar para o papel para o segundo livro. E aí tive mesmo de fazer pesagens. Penso que reflecte traços de personalidade fundamentais para quem está na cozinha: paciência, dedicação, generosidade. Para se fazer o melhor arroz, não se sai de ao pé dele. Tal como o risotto, precisamos de estar ali, a cuidar, sempre a mexer, para soltar a goma que será fundamental para a sua cremosidade. Não se poupa no leite, tal como não se poupa no tempo necessário para atingir o ponto de cozedura perfeito. Quando me vêm pedir uma receita de arroz doce rápido, eu digo sempre que rápido não rima com arroz doce. Esta lógica moderna de receitas em 15 ou 30 minutos veio destruir muito desse espírito necessário à cozinha, tal como à vida. Saber esperar. Não vale a pena acelerar o que não pode ser acelerado. Seja no arroz doce, seja numa massa lêveda, seja numa carne de forno perfeita, seja nas ambições que queremos concretizar nas várias facetas das nossas vidas. O tempo é fundamental.”