Em tempos idos, pela Páscoa, as famílias reuniam-se em volta da Vila de Amêijoas, uma receita originária de Olhão. Enquanto as mulheres rezavam e pediam a proteção dos seus filhos e maridos que sairiam para as campanhas da pesca, os homens cá fora, no adro da igreja, preparavam a Vila. Com a Vila de Amêijoas celebra-se e invoca-se a proteção de Deus, uma receita que simboliza a reunião de homens em volta dos alimentos que o mar oferece. Para além do lado simbólico do petisco, Manuel da Paz recorda-se sobretudo da competição saudável entre quem fazia a melhor Vila. A tradição perdeu-se no entanto. Em 1997, numa conversa de café entre amigos, veio à conversa a história da receita. Manuel da Paz foi buscar às suas memórias de infância o sabor e técnica, e retomou a tradição. “Para confeccionar o prato da Vila das Amêijoas é preciso ter muito amor àquilo que se está a fazer. Se não tiver amor não se consegue. Aquilo é como estar a amar uma mulher, ali uma mourazinha daquelas de Olhão.” Desde então é com amor e orgulho que confecciona a Vila de Amêijoas, com a amêijoa-boa apanhada na sua sagrada Ria Formosa.
