Hoje vamos falar de tomate. Um ingrediente consensual à mesa portuguesa e na de todos os países que praticam uma dieta mediterrânica. Consensual, porém, muito interessante. Comecemos, desde logo, com a história da sua vida que faria as delícias a qualquer terapeuta psiquiátrico:
– Nasceu na América Central e do Sul, no seio de uma importante e influente família da botânica – a das solanáceas – inicialmente mais conhecida pelos seus “ramos” menos ortodoxos ou impróprios para consumo. A ele estão associados nomes tóxicos (embora hoje com reconhecidas propriedades terapêuticas) como o da maliciosa, mas bonita, beladona.
Como as más línguas não perdoam, o tomate começou por sofrer a discriminação pela má reputação da sua linhagem e foi desconsiderado ao ponto de o tratarem como uma planta ornamental para jardins. Imagine-se!
Viajou então para a Europa onde lhe foi atribuído o merecido reconhecimento na categoria dos alimentos. No entanto, ainda não tinha gozado as glórias quando estalou a polémica que o deixou a braços com uma crise existencial:
– Será um fruto, ou um legume?
Nem ele sabia responder. Por um lado, sentia-se fruto, cheio de sementes. Por outro, sabia que não tinha o açúcar necessário. O que era, então?
Ainda hoje, de quando em vez, se levanta a discussão, contudo as mentalidades, agora mais abertas, permitiram ao tomate assumir a sua vocação de legume, mesmo que a sua natureza não seja essa. E pronto.
Ultrapassada a angústia, pode atualmente brilhar, sem complexos, em todas as suas variedades: redondo, chucha, cereja, coração de boi… Dizem que, em todo o mundo, são mais de vinte mil e que, para cada um, há mais de mil receitas.
Saladas são muitas, como a típica portuguesa “Mista”, a mais sofisticada italiana “Caprese”, ou a tradicional “Grega”; molhos, nem se fala, utilizados como base ou topping de deliciosas massas e pizzas; sopas também abundam e vão da consistente alentejana, soberba com o seu ovo escalfado, ao fresco e leve gaspacho andaluz, ideal para estes dias de verão; o arroz, a açorda, a caldeirada, os mexilhões, todos veneram o tomate. O próprio, recheado, assado, seco… Até em doce que acompanha tão bem o pão.
E estas são apenas algumas entre tantas, tantas outras utilizações que por vezes não têm nome nem receita, inventadas à velocidade da nossa imaginação, ou falta dela, pois o tomate permite-se a isto.
Faça o teste. Se hoje está sem ideias para o jantar, comece por escolher o tomate como ingrediente base. Depois, atreva-se a convidar os amigos para degustar um prato que nunca antes experimentou fazer. Vai ver que o sucesso é garantido.
Claro que, para isto, é preciso tê-los.
Por Teresa Pinto Leite
Fotografia de Teresa Novak