O calendário apontou para a chegada do Outono e com ele chegaram as tardes pintadas de vinhas avermelhadas, sob o sol dourado do fim do dia. O mosto fermenta pelas adegas do país, mas o tempo corre ainda preguiçoso e o Verão, esse, teima em ficar, caprichoso e doce, qual colheita tardia. Esta altura do ano sabe a reinícios e a regressos: a nostalgia de fim de férias já passou, apetece celebrar o recomeço e, até mais do que no Ano Novo, é agora, com a vinha vindimada, que tudo se renova, tudo recomeça. Há que aproveitar para festejar estes tempos com um almoço entre amigos e um copo de vinho na mão.
Colheita tardia.
Tal como as uvas colhidas tardiamente têm um doce especial, o sol suave deste Verão tardio também e deu o mote para o almoço. E se a ideia é reunir à mesa uma dúzia de vidas, o que vamos nós levar para a nossa mesa? Confirmamos que a natureza é generosa se tirarmos partido da estação: a pera rocha está no ponto e o marmelo começa a ficar maduro. O que fazemos nós com dois frutos? As virtudes da gastronomia portuguesa têm pano para mangas e ousamos mesmo dizer que a nossa gastronomia pode ser camaleónica, mesmo respeitando as origens e tradição.
Lembrámo-nos de um gaspacho outonal servido com lascas de bacalhau fumado, para fazer a ligação entre o mar e a terra. As bochechas de porco preto pediram a companhia de um molho de marmelo, um prato salgado com uma doçura suave para aproveitar os marmelos já caídos no chão. Se há fruta que adoça Outubro é a pera rocha. Mas se a metereologia trocou-nos as voltas, trocamos nós as voltas às peras. Para refrescar a boca, nada como um gelado de pera rocha e calda bêbeda.
O que não pode faltar à mesa portuguesa? “O Vinho”
O vinho e a gastronomia têm o poder de aproximar as pessoas, e se a vida é curta demais para se beber mau vinho, aproveitámos a campanha “O Vinho” El Corte Inglés de onde escolhemos os vários vinhos para “casar” com a ementa definida. Portugal é de facto riquíssimo e proporciona uma infinidade de harmonizações entre pratos e vinhos. Escolher um vinho é um desafio!
Podemos jogar com a nossa intuição mas é bom que neste casamento, para ser harmonioso, a comida e o vinho valorizem as qualidades um do outro e não abafem os sabores e aromas, respectivamente. Ouvimos o conselho: o vinhos secos antes dos doces, as colheitas mais jovens antes das mais antigas, os vinhos simples antes dos complexos, os brancos antes dos tintos, e acabar com vinhos doces (colheitas tardias, Moscatel, Vinho do Porto).
Acima de tudo, o vinho não deve ser bebido mas sim apreciado em companhia, numa refeição.
Eis, portanto, os vinhos que servimos:
As boas-vindas foram servidas com a frescura do Fiuza Sauvignon Blanc.
Do Tejo subimos para a Bairrada e o vinho Luis Pato Maria Gomes, que é um bom acompanhamento de peixe e marisco, acompanhou o gaspacho de Outono com lascas de bacalhau.
Seguiram-se as bochechas de porco preto com molho de marmelo na companhia de Assobio Tinto, um vinho versátil que acompanha a cozinha mais sofisticada à mais tradicional.
E do Douro descemos até à região de Setúbal e gelado de pera rocha que foi servido com Casa Ermelinda Freitas Moscatel.
O melhor mesmo deste almoço? O travo final da amizade e do prazer em partilhar este almoço “de colheita tardia” com pessoas especiais. Tal como o vinho e a comida precisam um do outro, também este almoço não teria feito sentido sem a presença de amigos. À vossa!
Confiança
O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura…
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova…
Miguel Torga
Fotografias © Manuel Gomes da Costa
Bochechas de porco preto com molho de marmelo
Para um almoço com sabor a "colheita tardia" as bochechas de porco preto pediram a companhia de um molho de marmelo. Um prato salgado com uma doçura suave para aproveitar...