A cerveja ocupa um lugar até bastante importante na minha vida, vem logo depois da água e do chá. Nunca gostei de refrigerantes, por isso, se me apetece beber alguma coisa fresca, bebo cerveja (ao pequeno almoço evito).
É, normalmente, acompanhada por boas conversas e consiste, ela própria, numa categoria de encontros e reuniões entre amigos. O “vamos beber uma jola?” provavelmente, está démodé, talvez agora se use mais o “vamos beber um gin cheio de pimenta e ervinhas a boiar”, mas pelo menos não é o “vamos à bica”.
Para mim a cerveja representa descontração. O lado leve da vida. Acompanha caracóis ou camarões, tremoços ou sapateiras, amendoins ou saladinhas de polvo e de ovas. Vai bem com tudo e com todos. Talvez por isso lhe chamem a “loira”.
Tendo em conta este imaginário leviano em que enquadrava a cerveja, envergonhou-me descobrir que esta é uma bebida com mais de 6000 anos! Respect.
Ainda Nosso Senhor Jesus Cristo não tinha nascido, já a cerveja andava por cá há muito. Existia, aliás, para ela, uma deusa própria: Ninkasi, a deusa da cerveja.
Só para que fiquem com uma noção maior da sua importância, em tempos, na Babilónia, era atribuída uma ração diária de cerveja ao povo. Todos tinham direito, no mínimo, a dois litros. Isto é que era justiça a sério.
Para ajudar à sua reputação, interessa também contar que Ramsés III ficou conhecido pelo faraó cervejeiro. Não por se meter nos copos mas pela sua generosidade: ofereceu aos sacerdotes do templo de Amon mais de um milhão de litros desta bebida.
Foi quando os Romanos descobriram o vinho que a cerveja perdeu o seu prestígio e passou a ser considerada uma bebida de Bárbaros. O que nos transporta de volta ao presente e a alguns festivaleiros…
Juízos à parte, a cerveja hoje, é uma bebida transversal que serve verdadeiros apreciadores e gourmets, como serve quem apenas procura o caminho mais rápido e barato para a bebedeira.
Concentremo-nos nos primeiros, pois sobre os segundos não há muito mais a dizer.
Hoje, já não são apenas os entendidos em vinhos que falam de castas, aromas e taninos. Começamos, cada vez mais, a assistir ao aparecimento de verdadeiros conhecedores de cerveja que sabem distinguir, com os olhos fechados, uma Lambic de uma Gueuze, ou, uma Barley Wine de uma Smoked. Sabem distinguir as belgas das alemãs e das escocesas, e as americanas das austríacas. Sabem em que interfere o tipo de malte, a quantidade de lúpulo ou o teor alcoólico no resultado final de uma cerveja e sabem qual acompanha melhor a carne, o peixe ou o marisco.
Sabem tanto que alguns começaram a fabricá-la. As cervejas artesanais são o new black das bebidas.
Eu, sei pouco. Sei que a marca não me interessa, desde que seja mini ou imperial e, sei também, que tem que ser bem fresquinha. Já é qualquer coisa. Brindo a isso.
Por Teresa Pinto Leite
Fotografia ©Teresa Novak