Um Pote no Centro de Tudo

Manuela cresceu de roda das saias da mãe. Natália, a matriarca, com o luto no coração mas com a garra da alma minhota, criou os seus seis filhos, mantendo-os sempre à sua beira. “Digamos que as circunstâncias obrigaram a minha mãe a fazer o papel de pai e mãe, sendo que a pressão aqui da aldeia de Perre sobre ela, eu julgo, que terá sido muito grande porque atendendo que não havia homens na casa, o que havia era a ideia que havia uma maldição nesta família porque os homens morriam todos e só ficavam as mulheres. Eu acho isto obrigou a minha mãe a exceder-se e a procurar fazer muito bem, efetivamente, os papéis todos, e ela cuidou de que crescêssemos com aquilo que ela acreditava serem os valores fundamentais, nomeadamente no sentido da interajuda e solidariedade.”

Foi sempre à mesa que a família se reuniu para partilhar momentos menos bons, como para festejar as coisas boas da vida. E assim continua a ser com a receita do Arroz de Pote. Originariamente, quando se cozia a broa, preparava-se o pote com o arroz que era colocado na ponta do forno. Quando a mãe de Manuela ficou viúva, a casa ficou sem homens e deixou-se de preparar o forno para a broa. A tradição do arroz perdeu-se. Durante 30 anos não se fez a receita até que Manuela a fez renascer dos seus sabores de infância: “Eu acho que este prato é como aquelas pessoas que não são consensuais, há quem goste muito e há quem não goste nada. Também há quem aprenda a gostar dele e então aqui em casa há alguns que são muitíssimo aficionados deste prato, e há mais ou menos uma imposição implícita que se faça algumas vezes por ano.”

O Arroz de Pote é uma receita única desta família de Perre, em Viana do Castelo, que senta à mesa cerca de 18 pessoas mas onde cabe sempre mais um!

 

Fotografias de Manuel Gomes da Costa

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