As saudades temperam a vida de doçura e de amargura mas das saudades da Rosa ficamos apenas com o travo doce na boca. A vida tem os seus reveses mas Rosa Neto dá a volta à vida com a sua bondade. Foi o que fez quando perdeu o seu trabalho de remalhadeira numa antiga fábrica têxtil em Manteigas, na Guarda, depois de 40 anos de dedicação. Deitou muitas lágrimas que se transformaram em saudades que ainda hoje sente: “Se hoje me dissessem assim – Queres vir para a fábrica? – eu saía de lá de cima do hotel… Eu acho que nem sequer me despedia, nem queria saber de nada. Mas pronto, tenho que aceitar, tenho que trabalhar, é assim a minha vida.”
São essas mesmas saudades que temperam o Coelho à Rosa, uma receita que aprendeu com a mãe. Uma de 13 filhos, Rosa, na infância, acompanhava a mãe na cozinha. Depois das caçadas do pai para alimentar a família, cozinhavam muitas vezes coelho. A passagem de testemunho da mãe para a filha, e as adaptações da receita, resultaram no que é hoje o Coelho à Rosa, famoso na família e no hotel onde trabalha atualmente.
E porque a música consola, Rosa canta e encanta:
Serões d’Aldeia
Como eu lembro com saudade
A avozinha a fazer meia,
Nessa ténue claridade
Da luzita da candeia.
De respeito e devoção
Havia o que quer que fosse
Pela noite ao serão
A luz tão suave e doce…
Serões d’aldeia,
Nessas casas tão branquinhas,
Junto à lareira,
Na roca fiam velhinhas.
E as raparigas,
Com seus dedos delicados,
Vão tecendo lindas rendas
Que guardam p’rós seus noivados
Quando à volta da lareira,
A família reunida,
Descansava da fadiga
De um dia de rude lida,
Ouvindo à avozinha
Os contos de antigamente,
Eu lembrarei toda a vida
Com saudade, eternamente.
Fotografias de Manuel Gomes da Costa