Uma homenagem a todos os vindimantes que estiveram ou ainda estão a colher as melhores uvas para os maravilhosos vinhos que hão-de chegar à nossas mesas! Com sol a queimar a pele ou com chuva a cair na cara, homens e mulheres de coração generoso, sobem e descem socalcos durienses ou percorrem planícies alentejanas, com sorrisos na cara e cestas às costas. Bem-hajam.
Vindima
Mosto, descantes, e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.
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Laivos de sangue nos poemas baços.
Doçura quente em corações azedos.
E, sobretudo, pés, olhos e braços
Alegres como peças de brinquedos.
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Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza.
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Rasgam-se os véus do sonho e da desgraça.
Ergue-se em Cheio a taça
À própria confusão da natureza.
Miguel Torga, in Libertação
Fotografia © Manuel Gomes da Costa