Poucos são os peixes que, para além de uma soberba refeição, proporcionem, pelo simples fato de serem atração principal no menu, uma festa. Falamos da sardinha numa bela sardinhada, evidentemente.
É claro que, desde que caiu nas graças dos grandes chefs, apareceram muitas formas requintadas de a degustar: confitada, recheada ou alimada. Todas um regalo mas sardinhada, é sardinhada. E se faz sempre sentido, no mês dos Santos faz ainda mais. Já diz o ditado “em noite de São João, a sardinha pinga no pão”. E, acrescentamos nós, na noite de Santo António, não comer sardinhas está fora de questão. Por isso, não resista, junte os amigos e prepare um alguidar bem grande onde possam caber muitas. A sardinha é pequenina mas come-se em grande quantidade! Deite-lhes sal grosso por cima e deixe-as descansar até as brasas estarem no ponto. Sacuda-as e leve-as à grelha. Puxe a brasa à sua com a ajuda de um abanico e ceda ao exercício quase masoquista de ficar a observar o prateado da pele dar lugar a um cinzento mais escuro, mais estaladiço, até que estala de vez para deixar à mostra aquela carne branca e suculenta. Oiça um pingo de gordura cair para fazer crepitar as brasas e deixe crescer a água na boca enquanto serve primeiro os mais impacientes que já lhe estendem uma fatia de pão.
Entretanto, tenha compostas saladas bem temperadas de tomate com cebola, de pimentos assados com alho picado e, de pepino, só com sal grosso e vinagre. Azeitonas, pão fatiado e até uma batatinha cozida para os de mais alimento, não podem faltar. Regue tudo com uma sangria fresquinha ou eleve a fasquia com um bom vinho tinto. A sardinha aguenta bem. Ascendeu, e hoje já não é um prato de segunda que custa 2 tostões. Está a mais de 2 euros o quilo! Actualmente, é apreciado pela varina como pelo embaixador e, aparentemente, muito. Só assim se explicam as 13 sardinhas por segundo que, dizem as estatísticas, os portugueses consomem durante o mês de Junho. E isto é falar só da fresca.
Em conserva a sardinha pode ser apreciada todo o ano. Em azeite, óleo ou molho de tomate, todas as alternativas são deliciosas. E sabem ainda melhor se pensar que está a contribuir para o reflorescer de uma industria que durante a Grande Guerra, ocupou o primeiro lugar das exportações do país.
Acrescente-se à lista dos benefícios deste sobrestimado alimento, um elevado índice do famoso (e benéfico) Omega 3, e conclui-se que foi bendita a hora em que se lhe fez justiça com a consagração do título de alimento Rico. É que não só sabe bem, como faz bem à saúde e à economia.
Viva a Rica sardinha!
Por Teresa Pinto Leite
Fotografia de Manuel Gomes da Costa