Cereja. Um fruto que é um brinco.

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Há quem diga que as cerejas são oriundas do japão e, embora não seja uma certeza absoluta (há também quem aponte para a Europa), ao olharmos para uma cereja, não nos restam dúvidas. De que outro lugar do mundo poderia vir um fruto com um design tão eficiente?

Se pensarmos bem, a cereja engloba em si toda a essência do minimalismo japonês. A sua forma redonda, simples e bonita, não tem nada, nem um pedúnculo que seja, de frivolidade. Neste fruto, não existe o supérfluo: da deliciosa polpa – cheia de vantagens para a saúde – aos caroços – úteis em terapias musculares – até ao pé, muito agradável e benéfico quando ingerido em infusão. Tudo é proveito.

Quanto ao velho continente, se não lhe serviu de berço, deu-lhe um certo “polimento”. Foi aqui que os paladares mais apurados foram capazes de reconhecer na cereja um enorme potencial gastronómico, e fizeram com que este fruto, que parecia já tão completo, ultrapassasse todas as expectativas quanto às possibilidades que tinha ainda para oferecer.

Transformaram-se parfaits em plus-que-parfaits, ricos mas frescos e suaves; confeccionaram-se gelados, sorvetes e pudins e, por cima, verteu-se a deliciosa calda vermelha e doce; inventaram-se clafoutis e reinventaram-se crumbles crocantes, tartes reconfortantes e licores inebriantes. Todos a evocar em nós o mais pavloviano dos reflexos, só de olhar.

Não obstante tudo isto, para nós, a cereja no topo do bolo, será sempre ao natural , ou melhor, ligeiramente refrescada. Nada se lhe compara.

Da Cova da Beira ou da Covilhã, de Lamego ou do Fundão, de Portalegre ou da Serra de São Mamede, só é preciso saber escolher. Uma polpa firme, uma cor uniforme e brilhante, e um pedúnculo verde e bem agarrado ao fruto, são as características que deve procurar. De resto, mais escuras e doces ou mais claras e ácidas, é uma questão de gosto.

Todas pedem 800 a 1000 horas de clima frio e de chuvas invernais para chegarem até nós em Junho (algumas em Maio), com todo o seu esplendor.

Os apreciadores mais atentos e preocupados com as questões da forma física poderiam até acreditar que a perfeição deste fruto faz com que cheguem até nós, nesta altura, para nos ajudar a entrar em forma no verão. É que, ao contrário do que se diz, nem tudo o que é bom faz mal, e as cerejas ajudam a eliminar toxinas e líquidos, têm poucas calorias, e a sua abundância em fibra ajuda a saciar a fome. Talvez seja exagero, quem sabe. Fato, é que são deliciosas.

E agora, apesar do ditado que diz que “as conversas são como as cerejas, vão umas atrás das outras“ esta tem que acabar por aqui pois já estamos com água na boca.

Por Teresa Pinto Leite

Fotografia de Teresa Novak


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