A minha avó disse-me uma vez que as mulheres roubam os filhos às mães. Na altura, a frase não me caiu muito bem – a minha mãe não estava ali para se defender da acusação. Já do lado da minha mãe, reza a história que um dia teve de se revoltar com o meu pai perante as visitas quase diárias, e sem aviso prévio, dos sogros: – Ou eles ou eu, desesperou a minha mãe.
Seguiu-se um tempo de silêncio e de ausência de visitas. A convivência entre nora e sogra terá regularizado depois um período de nojo, digamos assim.
Os anos passaram e a relação manteve-se para além da vida do meu pai. A minha avó tornou-se então numa ajuda preciosa, não só para os netos como para a minha mãe. A proximidade resultante da perda do meu pai trouxe à vida da minha avó uma filha que nunca teve – uma nova revelação feita pela avó, e esta sim já me caiu bem.
De entre as muitas trocas de galhardetes que sogra e nora mantiverem – uns mais azedos, outros mais afáveis e doces – a minha mãe registou alguns, nomeadamente o Pão de Nozes (da sogra), como consta de um livro de receitas. Lembro-me que a minha avó o preparava pelo Natal e que a minha mãe, por ser tão bom, passou a fazer noutras ocasiões – e ainda bem porque é divinal.
Em homenagem às sogras, aqui fica a receita e um ditado em jeito de aviso – “Não se lembra a sogra que já foi nora” – e já agora uma interrogação: todas as mães são futuras sogras em potencial ou todas as noras são futuras filhas em potencial?
O chef de serviço desta semana,
Teresa Júdice da Costa
Fotografia de Teresa Novak

Pão de Nozes
De entre as muitas trocas de galhardetes que sogra e nora mantiverem - uns mais azedos, outros mais afáveis e doces - a minha mãe registou alguns, o Pão de...